E se… Biotecnologista trabalhasse fora da bancada?

Você escolheu (ou está pensando em escolher) ser biotecnologista, mas ao longo da sua trajetória percebeu que trabalhar de jaleco na bancada de um laboratório não é tão excitante para o seu perfil… Será que ser biotecnologista é obrigatoriamente ser um ratinho de laboratório?

A resposta é: “não”! Após extenso debate, nós do Profissão Biotec concluímos que não há problema algum se um biotecnologista utilizar os conhecimentos adquiridos na graduação e suas habilidades pessoais para atuar em áreas relacionadas à biotecnologia, mas fora da bancada.

Existem muitas opções para um biotecnologista utilizar todo o conhecimento multidisciplinar e inovador que adquiriu na graduação em outras áreas. Algumas dessas profissões já foram citadas no texto 9 possibilidades de carreira para biotecnologistas, mas agora trouxemos exemplos de profissionais reais que atuam na área para você se inspirar.

Se liga em algumas sugestões de carreiras que não envolvem usar jaleco e calcular volumes de reações.

 

1 – Vendas (técnico)

A venda de produtos ou serviços biotecnológicos, ou mesmo de material e equipamentos de laboratório, pode ser uma área de atuação dos biotecnologistas. Para esse tipo de vendas é um diferencial (e, muitas vezes, um requisito) ter conhecimento técnico no assunto para sugerir o melhor tipo de produto ou serviço para a necessidade do consumidor.

Duas biotecnologistas da Universidade de Brasília (UNB) atuam com vendas de cervejas artesanais para a empresa AB Beers (Brasília – DF) e nos contaram como a graduação em biotecnologia as ajudou no trabalho atual. “A princípio, o trabalho de vendas não está ligado diretamente à biotecnologia, mas [esta] me ajudou a entender os diversos estilos de cervejas e quais são as técnicas de produção usadas para se chegar a determinados sabores.” conta a biotecnologista Hamile Mey Takematsu*.

A Nayara Soares da Cruz* acrescenta que sua passagem na Empresa Júnior Genesys, da UNB, foi fundamental para conseguir seu primeiro emprego:A experiência que tive na empresa júnior foi essencial para adquirir uma visão empreendedora.  É preciso ir além, sair da bancada e aprender a vender, aprender sobre questões financeiras mas também sobre marketing, por exemplo. É preciso integrar  e sair da zona de conforto. Graças a essa atitude hoje trabalho aliando conhecimentos em vendas e biotecnologia.”

 

2 – Marketing técnico

Pelo mesmo motivo do tópico anterior, biotecnologistas também podem atuar em marketing, área na qual o profissional utiliza recursos estratégicos e conhecimento especializado para o planejamento, lançamento e outros aspectos essenciais para a sustentação de um produto no mercado.

O biólogo Eduardo Ogawa* trabalhou como Analista de Marketing Digital na empresa de biotecnologia Neoprospecta (Santa Catarina) e contou um pouquinho de como era seu cotidiano: “Eu trabalho focado em coleta e análise de dados de Marketing, o que engloba campanhas de mídia on-line e off-line, dados de navegação de sites e apps e comportamento de usuários. No meu dia a dia preciso desenvolver e aplicar habilidades relacionadas à estatística, conhecimento do negócio, marketing e um pouco de programação”.

 

3 – Consultoria

O profissional da área de biotecnologia, munido de todo um conhecimento teórico e prático numa determinada área, pode atuar como consultor em empresas, ajudando a solucionar problemas que elas possam ter na execução de um determinado protocolo ou na produção de um bem ou serviço.

No caso do Dr. Danilo Elton Evangelista*, biotecnologista da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar – Campus Araras – SP), ele aprendeu durante seu mestrado a técnica de expressão heteróloga em levedura Pichia pastoris que, segundo ele, não é uma metodologia trivial e, por isso, muitos laboratórios enfrentam dificuldades na implementação dessa tecnologia. Detendo esse conhecimento, ele recebeu convite para realizar doutorado (e depois pós-doutorado) em um laboratório da USP. Foi nesse momento que também surgiu a oportunidade de consultoria: Pesquisadores de outras Universidades e de algumas empresas entraram em contato me solicitando consultoria nessa área [de expressão heteróloga em leveduras], as quais foram realizadas informalmente e, na maior parte, a distância. Atendi presencialmente uma empresa de Biotecnologia de São Carlos, realizando várias visitas, e acompanhando todos os “passo-a-passo” e, assim, pude atuar mais próximo do que seria uma consultoria formal.”

 

4 – Gestão de projetos

Biotecnologistas com habilidades (ou especialização) administrativas ou de gestão, podem atuar nessa área. No dia-a-dia, os gestores podem ser responsáveis pelo delineamento do projeto (desenho experimental, financeiro, equipe), distribuição das atividades, elaboração do cronograma, controle das atividades do laboratório, suporte e acompanhamento do projeto, organização e apresentação dos resultados gerados.

A biotecnologista Jéssica Scherer* da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) atua com gestão de projetos na startup Regenera Moléculas do Mar (Porto Alegre-RS) e conta porque considera que um biotecnologista poderia atuar nessa área:“A formação em Biotecnologia e a inserção no ambiente de pesquisa desde o início do curso nos permite ter uma visão muito ampla das etapas de um projeto, em especial de pesquisa e desenvolvimento. O olhar analítico com direcionamento para um produto/serviço final nos diferencia positivamente”.  

 

5 – Propriedade intelectual (PI)

A proteção jurídica das inovações na área da biotecnologia deveria ser uma preocupação constante dos pesquisadores e envolvidos com o processo de inovação tecnológica da empresa, e pode ser tarefa para um biotecnologista. Um profissional da área, com experiência de bancada, com os termos técnicos de pesquisa e conhecimentos jurídicos específicos pode facilitar a comunicação entre os envolvidos no processo de P&D e auxiliar na redação da patente. Esse trabalho pode ser realizado nas agências de inovação presentes dentro das universidades e institutos de pesquisa, em empresas ou dentro de escritórios especializados em propriedade intelectual (PI).

O biotecnologista Guilherme Zanini* da UFSCar (campus São Carlos – SP) trabalha como Analista de Patentes no escritório Gusmão & Labrunie – Propriedade Intelectual e nos contou porque escolheu essa área: “A ciência sempre foi minha paixão, e eu acredito que seja uma importante ferramenta de melhoria na vida das pessoas. Minha maior motivação em trabalhar com PI é poder usar esse DNA científico, inerente do biotecnologista, em conjunto com conhecimentos jurídicos na área para auxiliar as empresas e os inventores a protegerem suas inovações, terem a possibilidade de transformá-las em um produto/serviço e fazer a engrenagem do desenvolvimento tecnológico girar.”

 

6 – Educação

Um biotecnologista pode trabalhar passando adiante os conhecimentos adquiridos na graduação. Todo mundo conhece alguém que dá aulas particulares, que prepara materiais didáticos ou que se tornou professor de faculdade. Mas você já pensou em trabalhar fomentando o desenvolvimento de ciência no país?

Se liga no exemplo da biotecnologista da UFRGS Mariana Ritter Rau*, que é líder de mentorias no Cientista Beta, onde atua como coordenadora do Programa de Iniciação Científica Decola Beta , um projeto de iniciação científica para jovens de ensino médio: “Um dia resolvi olhar da porta do laboratório da universidade pra fora. Descobri o que a ciência pode fazer por jovens de ensino médio. Hoje lidero um programa de iniciação científica que dá mentoria, conteúdos e desafios para jovens de 13 a 19 anos. Meu dever é garantir total apoio pra que esses jovens se desenvolvem e desenvolvam pesquisa de qualidade”, diz Mariana.

 

7 – Assuntos regulatórios

A multidisciplinariedade da formação de um biotecnologista também permite a ele atuar na área de assuntos regulatórios, como explica a biotecnologista (UFSCar, São Carlos) Florence Sacksida*, analista de registros e regulamentação na Leisor: “A área de assuntos regulatórios precisa de um profissional muito flexível, que tenha senso crítico para uma diversidade de assuntos. Nós, biotecnologistas, somos preparados para lidar com isso. Os desafios são diferentes a cada dia e não há muita rotina nos problemas, por isso, um profissional que “sabe um pouco de tudo” é muito valorizado nesse setor. Podemos questionar autoridades de órgãos públicos, temos capacidade de entender sobre estudos complexos e a base necessária para trabalhar com estratégias para o planejamento e marketing de produtos”.

Nessa área, o profissional pode atuar desenvolvendo ou aplicando as legislações regulatórias para novos produtos ou serviços biotecnológicos, por exemplo em indústrias químicas, alimentícias, farmacêuticas ou veterinárias.

 

8 – Bioinformática

Na área de bioinformática os conhecimentos biológicos e computacionais vão se unir para permitir a análise de big data gerada por experimentos de genômica, transcriptômica, proteômica e outras -ômicas. Outra possibilidade é o estudo estrutural da interação entre proteínas ou entre proteínas e pequenas moléculas. Nesta área, ainda é possível realizar experimentos e pesquisas fora da bancada, no chamado dry lab (em contraste com os laboratórios experimentais que são conhecidos como wet labs).

A biotecnologista (UFSCar, São Carlos) Sheila Nagamatsu* trabalhou como analista de bioinformática no Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE/CNPEM) em Campinas – SP e contou um pouquinho para a gente: “Durante esse tempo trabalhei com algumas pesquisas relacionadas a bioetanol, procurando genes de interesse em dados públicos principalmente. Além disso, tive a oportunidade de seguir com o desenvolvimento da minha tese de doutorado, que envolve análise de genoma de leveduras para produção de etanol de primeira e segunda geração.”

 

9 – Departamento médico-científico da indústria farmacêutica

Você sabia que, numa indústria farmacêutica, existem outras carreiras fora da bancada além de propagandista? Um biotecnologista pode atuar em carreiras de consultoria científica, analisando e repassando o conhecimento científico proveniente de artigos e pesquisas clínicas para os médicos, como no caso dos Medical Science Liason (MSL) e dos Especialistas de Informação Médica (Medical Information Specialists, MIS).

A farmacêutica Taís Barboza* nos contou um pouquinho de como é trabalhar como Especialista de Informação Médica na PPD: “Medical Information, é uma área onde diversos profissionais da saúde (HCPs) podem atuar, como Biotec. Nós disponibilizamos os dados disponíveis para os HCPs tomarem boas decisões para seus pacientes. Considerando suas particularidades e histórico médico, ajudamos a trazer o conhecimento gerado nos estudos clínicos para a realidade da prática clínica.”

Agora, com essa lista, você já tem mais material para guiar a escolha da sua carreira, afinal de contas, lugar de biotecnologista não é só na bancada, é onde ele quiser! Você conhece mais alguma opção de carreira fora do laboratório? Deixe um comentário contando para a gente!

*Os relatos aqui transcritos são opiniões pessoais e não refletem as das empresas nas quais as pessoas trabalham.

Bônus: Links sobre carreiras fora da bancada para pós-graduados neste post e neste.
Confira mais exemplos de biotecnologistas atuando no mercado de trabalho na nossa série #soubiotecnologista!

 

 

Revisado por: Thais Semprebom e Mariana Pereira
1 Comentário
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments
DAYANA
DAYANA
5 anos atrás

Parabéns. Essa matéria dar um animo, principalmente a recém-formados

Sobre Nós

O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

Recentes

Assine nossa newsletter

Ao clicar no botão, você está aceitando receber nossas comunicações. 

X